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Hospedando
o VII SEMFEP

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16 a 18 de maio de 2024

HOSPITALIDADE EM CURRÍCULO E GESTOS ESTRANGEIROS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Quando ordinariamente escutamos falar em “hospitalidade”, ou somos solicitados/as a nos envolver com atos hospitaleiros, o sentido mais comum a que somos levados/as a nos relacionar, é o da “hospitalidade” como gesto benigno, acolhedor. Mas segundo o discurso Jacques Derrida (2003), virtualmente convidado pelo VII SEMFEP a problematizar justamente a consistência da in-condicionalidade dos acolhimentos no entorno do currículo da-e-na formação de professores/as, é construtivo alojar em nossos textos o quase-conceito de hospitalidade na ambivalência própria, que é a também a “hostilidade”, e logo deslizamos a um lugar de incessantes tensionamentos, quando admitimos que podemos hospedar em nossos discursos, e mesmo dar abrigo em nossos corpos, a conceitos fortemente fundados e previamente forjados, diremos inclusive, pré-conceitos em relação à “outridade”, ademais hostis à diferência.

         Mas no contexto aqui, o que é a “outridade”? Ou, quem são esses outres? A princípio, o que nos provoca sentimentos de hospitalidade-e-hostilidade, é tudo o quanto estranhamos no cotidiano, estranhamentos que podem assumir uma corporalidade conjuntiva indeterminada, momento em que passamos a nomeá-los: “estrangeiros”. Mas assim como um corpo tanto pode ser uma pessoa, quanto um texto ou discurso, também quando pensamos em estrangeiros, podemos assim os diferir: às vezes o nosso estranhamento pode tomar um corpo, quando em nosso convívio de formação nos relacionamos com uma colega, ou um estudante neurotípico, ou na medida que interseccionamos nestes corpos, rastros de ancestralidade, migração, diáspora e cativeiro; com performatividades de gênero e sexualidade; e quando agenciamos memórias cativas em corpos invaginados; memórias exiladas em corpos caçados; memórias migrantes em corpos transvertidos (FLÁVIO, 2023); e diariamente precisamos tensionar as fundações e consistência da hospitalidade dos nossos gestos em tal relação. Ou, quando estranhamos nos textos e enunciações cotidianas de currículo, gestos discursivos que delimitam com bastante visibilidade um território do pensamento de onde não raro, alguns de nós contingentemente desertamos, ou, aquele lugar de pesquisa que não mais ocupamos porquê de lá batemos em retirada por questões pessoais por vezes bastante adversas, e de onde ao fugirmos, passamos à conta dos estrangeiros em busca de hospitalidade em outras paragens com ambiências dissidentes que possam nos oferecer asilo.

        No espírito do instante em que nossos atos e corpos dissidentes nos convertem à estrangeiros/as, e ainda seguimos em trajetória de tensionamentos no estranhamento de corpos textuais e gestos discursivos outros nos currículos da-e-na formação de professores/as, é quando passamos à experiência ambivalente da hospitalidade derridiana. Se Jacques Derrida (2003, p. 04) diz que “um ato de hospitalidade só pode ser poético”, é certamente porque esse ato se dá em um jogo simultaneamente ético e político; e que sendo poético, emerge como uma “arte” nas relações. E aqui enunciamos em termos suplementares junto a saberes cotidianos, que tanto a ‘arte das relações é uma política’, quanto ‘a política é a arte da negociação’.

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Assim, um terceiro conceito que vem nos acudir a pensar a hospitalidade e a estrangeiridade, é o de “negociação” de Homi Bhabha (2013), que no trânsito dos lugares formacionais e de currículo em que nos hospedamos e/ou hostilizamos, nos indaga sobre a consistência dos nossos gestos políticos na relação com todos os corpos e gestos quanto estranhamos. Negociar é inequivocamente diferente de disputar. A disputa requer gestos de confrontação e oposição dialética, a tática de fortalecer por antínteses polarizações bem determinadas, na busca de uma síntese absoluta produzida pela consciência. Já a negociação, é a arte de se mover na indeterminação das fronteiras, para propor um lugar alterativo, um “entre-lugar”, como dizia minha avó aos sábados negociando com os feirantes um valor alternativo para suas demandas: “nem eu, nem você...”.

         A enunciação “nem eu, nem você” no gesto de negociar, justamente indicia o rompimento com o nexo de uma consciência de si mesmo muito bem fundada, um Eu Familiar (ou um ‘Nós’ fortemente demarcado, numa espécie de consciência coletiva), e de um Vocês, Os Estrangeiros (na tentação maniqueísta de converter um conjunto diverso de ‘Eus’ em único e beligerante corpo, o d‘Eles’, os inimigos externos). Eis portanto, o convite a um cessar-fogo nas tão comuns circunstâncias em que se repete o refrão ‘nós-contra-eles’ em currículos e na formação, que diverge de contradições historicamente pacificadas, onde há a prevalência ou hegemonização de um discurso síntese, para a geopolítica do entre-lugar, onde diferentes discursos em tensionamento podem se hospedar sem a pretensão de fixação, pois é quando um corpo e um gesto se hegemonizam com sobeja determinação em um dado lugar, que a alteridade é empurrada para a marginalidade; que aqueles outres convertidos/as/es em dissidentes, passam hostilizados/as/es à estrangeiridade.

Enfim e a tempo, é nessa ambiência que o VII SEMFEP, com o enunciado “Hospitalidade em currículo e gestos estrangeiros na formação de professores”, que se inscrevem os dilemas que serão investigados ao longo do evento, e que deverão ser submetidos os trabalhos para apreciação. E face a isso, deixamos  algumas perguntas que podem funcionar como provocações construtivistas: quais são os corpos hostis e/ou hostilizados em nossos percursos de formação? Quais discursos hospedamos, e em que mesmos lugares somos convertidos a dissidentes, estrangeiros/as? Em que fronteiras do currículo ou tensionamentos cotidianos na formação, buscamos produzir gestos de negociação?

 

REFERÊNCIAS

 

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.

DERRIDA, Jacques. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da hospitalidade. Entrevista. São Paulo: Escuta, 2003.

FLÁVIO, Augusto. À margem, se avizinha. Texto de Chamada

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